- Quanto é dois vezes dois... vá
fazendo esta cópia... Joselito, nem comece com seu choro, é pra você soletrar,
vumbora com isso... Quem foi Princesa Isabel?
Não, não... essa não é uma sala de
aula de aceleração, ou “enturmação”... nada disso. É a sala, é a cozinha de
minha casa, por volta de 1970.
Cresci e me criei em uma família de
professores. Minha irmã mais velha, antes de lecionar profissionalmente no hoje
chamado ensino fundamental, já tinha como renda dar aulas de reforço (na década
de 70 era a famosa banca) para alunos de 1ª a 4ª série.
A casa era pequena e a cozinha tinha
uma mesa onde ao redor ficavam alguns alunos e na pequena sala outros. Naquele
ambiente, confesso que, não sei como, aprendi a ler e escrever. Ficava eu de
olhar comprido, vendo minha irmã “tomar a lição” e queria participar. Ela então
passava para mim alguns deveres, que eu não entendia como método de
alfabetização.
Mas uma coisa me incomodava. Havia um
aluno, Joselito (imagine que não esqueci o nome nem as feições físicas) que
TODOS os dias choraaaaaaaava na hora de “tomar a lição”. Todos os dias...
aquilo me incomodava: a “insensibilidade” de minha irmã e o “sofrimento” diário
de Joselito. Tinha eu 5, talvez 6 anos de idade.
Minha alegria foi no dia em que pude
passar a frequentar a casa de minha cunhada e lá passei a ser aluna: tinha
caderno e direito a exercício – geralmente copiar frases. Sim, sim... minha
irmã e a família de minha cunhada faziam o mesmo: davam banca.
Ao ingressar pela primeira vez OFICIALMENTE
em uma instituição de ensino, aos 7 anos de idade, na Escola Estadual
Presciliano Silva, já sabia ler e escrever. E, por isso, fui transferida do
antigo pré-primário para o 1º ano. E perdi, sobretudo, a merendeira com Q-suco
de groselha e biscoito. Isso porque, no 1º ano os meninos levavam dinheiro para
comprar pipoca pela fresta do portão. Eu? Caçula de uma família de 9 irmãos,
órfã de pai e mãe, o máximo que tinha era alguns centavos, mas achava o máximo
me acotovelar por entre as frestas do portão e gritar: “mooooooooço, me dá 20
centavo de caroço”!
Hoje, segui a rota natural da família
e confesso que não saberia ser outra coisa a não ser ajudar na formação cidadã
de adolescentes. Educadora apaixonada: essa é minha profissão.
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