Por Patrícia Pacheco
No início das aulas dessa
disciplina Cristina nos pediu que conceituássemos livremente o que era para nós
DOCÊNCIA. Naquele dia escrevi: “É a experiência contínua de mediação de
conhecimentos específicos em uma escola ou faculdade”. Claro que essa foi uma
definição aligeirada mas acho interessante retoma-la agora para, à luz do texto
e do filme recomendados, melhor refletir sobre essa mediação que fiz referência
no início do curso.
O texto e o filme me fazem
perceber que esse sentido da docência enquanto mediação é tão encantador e
prazeroso quanto complexo e extenuante. É encantador e prazeroso porque mediar
saberes significa encontrar-se com a nossa forma primordial de aprendizado na
qual aprendemos o que é imediato para nosso ordenamento no mundo e aprendemos em conjunto, pelas trocas, pelos
saberes significativos à nossa cultura e ao nosso ser no mundo.
Por sua vez, é complexo e
extenuante porque a sociedade contemporânea, em suas demandas produtivistas, não
quer essa mediação, não a valoriza nem a compreende. Na escola e nas
universidade o que vigora é a hierarquização dos saberes como se fora desses
lugares, ou antes que eles existissem, não houvesse relação de aprendizado
significativas advindas de outras tradições. Eis como o texto aponta a
complexidade que envolve o mediar nesse contexto:
“O
espaço da mediação didática está justamente em descobrir o que os alunos sabem
e como o sabem. O professor, parafraseando Macedo (2000), como mediador de
saberes é também um tradutor. Assim, o professor é um mediador entre as idéias
dos educandos e os objetos de conhecimento. (d´Ávila, 2005)
O filme-documentário Entre os Muros da Escola, por sua vez,
traz um incômodo generalizado que revela exatamente a dificuldade de mediar em
contextos engessados e conservadorismo. Nesse sentido, torna-se emblemático o
processo de construção da autobiografia dos alunos solicitado pelo professor
pois há uma busca de conectar as experiências dos alunos com o conteúdo
estudado. Relembrem a cena aqui
O nível de mobilização que o
professor consegue dos alunos com a citada atividade encontra explicação na
afirmação de Cristina d´Ávila(2005)
“O que importa, para o desenvolvimento adequado da mediação
didática docente, é considerar o que o aluno traz como bagagem cultural e,
então, ensinar/mediar de acordo. O trabalho pedagógico é um trabalho de
delicada tradução.”
O que significa dizer que essa
bagagem cultural não só potencializa essa mediação como acaba por selecionar o
que o sujeito, de fato, irá apreender, visto que
“No cotidiano docente, nas salas
de aula, experimentamos que os conhecimentos, as normas e as diretrizes
descolados das experiências sociais que os produzem se tornam abstratos,
distantes e desinteressantes” gerando “conhecimentos pobres em significados sociais e em motivação,(ARROYO,
2011).
Referências:
Entre os Muros da Escola (do
original Entre les Murs), França,
2007, direção de Laurent Cantet.
D´ÁVILA, Cristina. A
mediação didática na história das pedagogias brasileiras.Revista da FAEEBA
– Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 14, n. 24, p. 217-238, jul./dez.,
2005
ARROYO, Miguel G. Currículo, território em disputa. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2011.
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